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FOTO DE VARIAS GALAXIAS

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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

- Antes de tudo, o nada -

SP- 17/09/2006
Fred Melo Paiva
'Mas é assim mesmo que funciona.' Se o físico Mário Novello fosse um Marcelo Gleiser, esse poderia ser o seu bordão. Para cada descoberta que faz a ciência, surgem novas e novas perguntas. A cada resposta, supera-se uma velha teoria. Pode parecer que os cientistas erram - 'mas é assim mesmo que funciona'. Novello, de 64 anos, é um cosmólogo e, por definição própria, 'trata de tudo o que existe'. Sua especialidade, ele diz, 'está além da física'. Mais precisamente, faz a sua 'refundação', assim como Einstein fez um dia.Em 1972, quando Mário Novello chegou de um pós-doutorado em Oxford, na Inglaterra, tentou formar no Brasil um grupo de estudos da Cosmologia. Seus colegas não entenderam nada. Pensaram que Novello tinha enveredado pelo caminho da metafísica ou da religião. Não poderiam estar mais enganados. A Cosmologia está hoje na linha de frente das pesquisas sobre a origem do universo - Novello é pesquisador do Instituto de Cosmologia e Relatividade Astrofísica, organismo vinculado ao Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas do Ministério da Ciência e Tecnologia. Filho de imigrantes italianos, é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autor, entre outros livros, de O que é Cosmologia, que acaba de ser lançado pela Jorge Zahar Editor.Desde o último dia 10/09/06, Mário Novello está envolvido com a 12ª Escola Brasileira de Cosmologia e Gravitação, um encontro internacional que reúne mais de 80 cientistas em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Entre oficinas e palestras, ele concedeu ao Aliás (Estado de Sao Paulo) a seguinte entrevista:
Em que ponto está hoje a explicação da ciência para a origem do universo e da vida ?
Desde os anos 30, houve uma certeza que só se confirmou realmente, por razões de observação, nos anos 60:
o universo era um processo - alguma coisa que variava com o tempo.
O volume do universo estava aumentando com o passar do tempo, o que significava que ele fora menor no passado. Imediatamente, surgiu a questão: quão pequeno foi esse volume?
A Teoria da Gravitação - ou da Relatividade Geral - afirmou ser realmente muito pequeno, embora não chegasse a zero.Durante muito tempo, esse momento extremamente reduzido foi identificado como o começo de tudo.
E firmou-se a idéia de que não seria possível, pela ciência, examinar o que teria acontecido antes desse big bang. Isso, claro, era pura ideologia.Tem a ver com religiosidade?
Tem a ver com o fato de que o cientista, como qualquer um de nós, tenta dar uma explicação completa sobre tudo o que existe. A respeito do big bang, dizia-se que o cientista não poderia investigar seu momento inicial porque ele era uma 'singularidade' - este era o termo técnico utilizado. Isso era uma catástrofe para a ciência. É por aí que a religiosidade entrou, inclusive a Igreja Católica, que viu com bons olhos o fenômeno e ainda hoje o considera assim.
O que chamo de pura ideologia é essa tentativa de eliminar a ciência da explicação desse momento inicial. Aconteceu desde os anos 60, com um momento máximo nos anos 80. Mas, a partir dos 90, isso tem decrescido enormemente. Hoje em dia, o big bang já não é mais entendido pelos cientistas como esse momento em que a física não pode ser utilizada. Pelo contrário, é visto como momento de passagem.Como assim?Houve alguma coisa antes e a ciência agora tem de explicar o quê. Existem vários modelos para entender o que teria dado origem àquele momento de condensação máxima. Todos são semelhantes, de forma que podemos visualizá-los de uma forma muito simples: o universo teria colapsado, seu volume então teria diminuído com o tempo, atingindo o momento de condensação máxima. A partir daí, começou a fase atual de expansão. Alguns cientistas, que não tinham querido resolver a questão do big bang, criaram, imediatamente, dois problemas: primeiro, o que teria colapsado? Segundo, por que parou de colapsar e o processo foi invertido para um momento de expansão?
É exatamente assim que caminha a ciência: ela resolve algumas coisas e, se é suficientemente poderosa, cria novas questões.A partir do big bang, como a ciência entende, hoje, o aparecimento da vida?Não sou biólogo, por isso não posso responder definitivamente essa questão. Posso dar uma idéia do meu ponto de vista. A vida requer a existência de longas cadeias de carbono. Ela não se reduz a isso, mas é uma condição. No universo, o carbono só é produzido no interior das estrelas, que são muito quentes - alguns bilhões de graus centígrados. Conseqüentemente, se o carbono estivesse nas estrelas, não seria possível a formação das grandes cadeias e a viabilidade da vida. Assim como o universo, as estrelas também têm seus processos. Nascem, evoluem, morrem. Essas mortes podem acontecer de várias maneiras. Podem, por exemplo, explodir, lançando o carbono no meio inter-estelar. Assim, esse carbono pode encontrar um sítio com temperaturas razoáveis, que possibilita a formação das grandes cadeias. As cadeias, encontrando contextos propícios, podem gerar o fenômeno da vida. Nesse sentido, como disse um astrofísico amigo meu, somos os restos mortais de uma estrela.Você nos dá uma série de explicações para a origem da vida. Mas o papa nos diz que, sem considerar a existência de Deus, as contas não fecham.A ciência não tem por objetivo fechar contas. Isso é concluir o trabalho, mas a ciência é inesgotável, assim como a natureza.Mas a ciência também erra, não?Quando você ouve que Einstein fez uma nova Teoria da Gravitação mostrando que Newton estava errado, não é nada disso o que aconteceu. Newton não estava errado. O que Einstein fez foi determinar que a teoria de Newton se aplica apenas em certas circunstâncias. Por que isso aconteceu?
Porque, do século 17 até o começo do século 20, não tínhamos dados observacionais para mostrar até onde a teoria de Newton era válida. A ciência sempre faz uma extrapolação do que é demonstrado, justamente para que, mais adiante, se possa colocar os limites. Não houve um erro, mas a delimitação da aplicabilidade da teoria. E é assim mesmo que funciona. Hoje, estamos usando a teoria de Einstein em todas as circunstâncias. Ao fazer assim, vamos encontrar - ou não - contradições com a observação ou com outras teorias. Nesse momento, a sua teoria será ultrapassada - mas nunca negada na região onde ela foi compravadamente validada. Dizer que a ciência está sempre errando não é verdade. Ela praticamente nunca corrigiu o passado.
O entendimento do buraco negro é um erro, não?
Sobre isso, há o estudo de um físico russo mostrando que aquele resultado a que Stephen Hawking chegou - e que deu fama a ele - não é verdadeiro. Hawking concluiu que o buraco negro emite radiação e, portanto, não poderia ser negro. Esse cientista chama-se Vladimir Belinski e está aqui no Brasil no momento, em nossa conferência. Fez-se a crítica e é assim mesmo que funciona. Como o fim da história, o fechamento da ciência é uma idéia simplista.No caso do buraco negro, então, a ciência errou.O grande erro foi a transformação de Hawking em mito. Ele foi chamado até mesmo de um novo Einstein. O que Einstein fez durou 100 anos e ainda vai durar algumas décadas. Hawking teve uma mídia internacional fantástica. Uma Breve História do Tempo vendeu 1 milhão de exemplares. Duvido que mais de 300 pessoas tenham entendido aquele livro. O mito Hawking é um problema da sociologia - não tem nada a ver com ciência.
O que é Deus para a ciência?
Numa ciência como a cosmologia, em que se fala sobre tudo o que existe, incluindo o começo do universo, questões que são tradicionais da metafísica ou da religião sempre aparecem. Na verdade, esta foi a razão pela qual durante muito tempo, ao longo do século 20, ela não foi entendida como ciência. Era um tema tratado meio à parte até mesmo pelos físicos. Eles achavam que o objeto da cosmologia - essa totalidade chamada universo - não tinha sentido, porque, ao observá-lo, só podíamos ver um pedaço dele e não sua totalidade. Mais tarde, ficou provado que é possível observar a expansão total do universo. Por isso, muitas pessoas acharam que a idéia do big bang responderia sobre quem é Deus, o que ele faz etc. Mas essa é uma questão de ideologia, para aqueles que tomam o conhecimento científico e o utilizam dentro de uma especificidade que os interessa. A ciência propriamente dita não pode entrar nesse campo. Eu não chegaria ao ponto de dizer, como arrogantemente diziam os mecanicistas do século 18, que Deus é uma hipótese desnecessária na ciência. Isso é uma tolice. Dependendo de como cada pessoa, ou cada cientista, interpreta o que significa Deus, ele pode encontrar na ciência algum ponto de contato com um certo movimento de idéias que ele possa ter a respeito desse Deus. Mas o fato é que o Deus da religião não tem muito espaço dentro da ciência convencional e nem dentro da cosmologia.
O que teria, então, dado origem ao movimento de expansão primordial do big bang? O que veio antes disso?
Hoje em dia, devido aos avanços principalmente da física quântica, temos uma situação incomum. Todos temos uma idéia elementar do que vem a ser o vazio. É, digamos, uma caixa de onde se tirou tudo o que havia dentro e agora não há mais nada. Este é o vazio clássico do mundo cotidiano. Só que o mundo quântico mudou totalmente a maneira de perceber isso. Nele, esse vazio é cheio de potencialidades que podem se realizar. Podemos, assim, substituir o nada por esse vazio quântico, que é instável - os físicos descobriram que ele não pode permanecer como vazio ao longo do tempo. Ele sempre se transforma em alguma coisa real. Passa a existir. Você veja que os cientistas estão lidando com áreas tradicionalmente ocupadas pela metafísica e pela religião. Mas é assim que funciona. Nos séculos 16 e 17, os físicos tiraram dos metafísicos uma série de questões que eles julgavam típicas de sua área de atuação. A religião, até onde posso perceber, escondeu-se atrás do big bang e está ligada à fantástica publicidade que esse fenômeno sofreu a partir dos anos 60. Hoje, através dessa noção quântica do vazio, a grande lição que estamos tirando é a seguinte: não havia escolha - não pode não haver alguma coisa. Se você identifica Deus como aquele que cria, o fato é que não há lugar para Ele nessa nova cosmologia.O mundo árabe foi muito importante para o desenvolvimento, por exemplo, da matemática. Em que medida o fundamentalismo religioso naquela parte do mundo prejudica a evolução científica?
Quando a religião toma a estrutura de poder, isso é uma catástrofe não só para ciência, mas para a sociedade como um todo
. Essa sociedade deixa de poder explorar seus caminhos de liberdade e fica amarrada a certos preconceitos. O mundo muçulmano tinha um pensamento original maravilhoso, que infelizmente vem sendo impedido. Este, no entanto, é um exemplo extremo. Do outro lado, os Estados Unidos de Bush também criam barreiras semelhantes, como o movimento criacionista.
Quais são as principais contradições do criacionismo?
Todo esse movimento de idéias utiliza a ciência para demonstrar a existência de uma espécie de engenharia inteligente que arquiteta o universo. Tentam mostrar que, sendo o universo tão fantasticamente organizado, seria um absurdo que tudo isso se desse por acaso. Na verdade, a ciência não diz que é por acaso. Simplesmente a ciência não discute o problema da origem das leis da natureza - e não deve discuti-las mesmo. O que a ciência faz é descobri-las. Nós a descobrimos sem a necessidade de encontrar esquemas que identificam a ordem do mundo como se o pensamento do homem fosse o seu centro - afinal, isso é de uma ingenuidade muito grande.Por que a física moderna é tão estranha ao pensamento convencional?
A mecânica quântica diz que, para você ir de um ponto ao outro, não precisa passar por todos os pontos intermediários. Isso soa aos nossos ouvidos como uma heresia - posso desaparecer do mundo e ir daqui para ali?
Poderia dar centenas de exemplos para mostrar o seguinte: no século 20, a ciência entrou em territórios que estão extraordinariamente fora dos nossos cotidianos.Quais são as conseqüências disso?
Quando contrapomos a física newtoniana à física de Einstein e à da mecânica quântica, ficamos todos chocados. Isso acontece porque a física de Newton é a dos nossos corpos. Ela fala de velocidades típicas das nossas velocidades, temperaturas típicas das nossas temperaturas. Uma frase de sua teoria dizia que, ao colocar um gás dentro de uma caixa, esse gás ocupava todo o volume da caixa. Você pode não entender a razão pela qual o gás faz esse movimento. Mas você entende o que isso quer dizer. Quando se fala sobre as novidades de Einstein e da física quântica, não dá sequer para entender, porque foge completamente do cotidiano. A física moderna está no interior da matéria e no universo, em regiões fantasticamente grandes. Nossa galáxia tem mais de 100 bilhões de estrelas - e é apenas uma galáxia no meio de centenas de bilhões de galáxias que existem no nosso universo observável. Esse tipo de coisa está totalmente fora das nossas dimensões. Freud disse, no começo do século 20, que houve três grandes golpes no orgulho da espécie humana: primeiro, o homem não é o centro do universo; depois, não é um processo único, mas fruto da evolução; terceiro, o próprio Freud ensina que as noções psicológicas e socias no mundo dizem respeito a esquemas irracionais que acontecem em nossos cérebros. Acho que há um quarto grande golpe: teremos de conviver com processos que os cientistas estão descobrindo e que não mais se adequam ao cotidiano. Quando tentam transformar tais processos em linguagem do cotidiano, vira transcedência: ir de um ponto para outro sem passar por pontos intermediários é coisa para fantasmas. A verdade é que o pensamento newtoniano não é o centro do mundo. E a natureza está pouco se ralando se o homem escreveu suas teorias dessa ou daquela maneira. Estamos passando por uma fase de revolução científica em que as contas realmente não fecham e isso é maravilhoso. Não têm mesmo de fechar. O pensamento fechado é sempre corporativista e autoritário.Estes últimos dias, temos sentido na pele a grande oscilação da temperatura. A Europa sofre com verões cada vez mais rigorosos. A degradação do planeta e a sua salvação vai angariar mais gente para o universo religioso ou para o campo da ciência?
No séculos passados, antes da revolução industrial, o movimento científico tinha quase que um comportamento religioso - o cientista se achava em contato direto com alguma coisa que outros chamariam Deus. Cada um, religioso ou cientista, achava-se diante de algo maravilhoso, que transcendia a ele próprio. Talvez seja ingênuo pensar dessa maneira, mas naquela época a sociedade se organizava através de uma espécie de relação respeitosa com a natureza - independentemente do caráter religioso que as pessoas pudessem ter. Por várias razões, essa relação hoje é totalmente diferente. O foco não está mais nos fundamentos da ciência. O que maravilha o mundo é a tecnologia. O pensamento científico, que nos séculos 17, 18 e 19 dialogava com o pensamento religioso ou filosófico, deu origem a algo prático. Cientistas se voltam cada vez mais para a técnica. Isso resultou no distanciamento da natureza, que agora é preenchido outra vez pelo saber religioso. Veja que, curiosamente, no momento da consolidação da grande revolução científica que houve a partir do começo do século 20, surge um pensamento religioso cada vez mais forte. Estou apenas querendo dizer que, ao invés de se ter um conhecimento sobre o urânio, produziu-se a bomba atômica.


2 comentários:

Unknown disse...

Primo, fantástico e ao mesmo tempo assustador, não? Gosto muito desse assunto e vou procurar ler mais a respeito. Beijos a todos e parabéns pelo seu blog, interessante.

Unknown disse...



Gostei do que li! Vou dar uma olhada nos cursos e palestras!
Valeu a dica!